quinta-feira, 12 de julho de 2007

"As Horas"

Olá, pessoal!

Ouvimos constantemente a afirmação de que a vida é “uma busca individual da felicidade e da realização plena”. Nesse mundo que busca a eterna felicidade, como poderíamos apresentar a “dor de viver”? O filme “As Horas” cumpre esse papel.

Em “As Horas”, essa tal “dor de viver” não vem atrelada à morte, ao fracasso ou qualquer outro tipo de “tragédia”, mas simplesmente ao peso de existir, que pode ser um fardo maior do que se imagina. O filme quer nos fazer pensar que a vida, enfim, pode trazer mais que felicidade e realizações efêmeras.

Pode trazer a insatisfação sem precedentes e sem justificativas a não ser no fato de estar vivo. “As Horas” arrisca mostrar essa face pouco explorada do “desgosto de viver”.

Virginia Woolf (Nicole Kidman) inicia o filme se suicidando, como fez realmente em 1941. Esse primeiro evento do filme serve como “start” para que o espectador consiga diagnosticar o mal que afligirá as três personagens principais da história: Virginia Woolf, na década de 20 escrevendo “Mrs. Dalloway” - obra que mantém uma inteligente relação com o filme - e tentando manter sob controle sua loucura diagnosticada. Laura Brown (Julianne Moore), em Los Angeles de 1949, tentando conciliar o fato de ser mãe, esposa e dona-de-casa, quando o que mais deseja é a solidão. Clarissa Vaughn (Meryl Streep), editora bem sucedida na Nova York de hoje e que prepara uma festa para o amigo (portador do vírus da AIDS e em estado avançado da doença) pela conquista de um prêmio literário. Clarissa empenha suas poucas motivações existenciais na futilidade de uma recepção para os amigos.

Esses três momentos do filme se intercalam numa edição primorosa (a primeira cena é realmente espetacular), sem nunca confundir o espectador e fazendo sempre paralelos diretos ou não com as situações das três mulheres e da personagem do livro de Virginia Woolf. Nenhuma personagem do filme aparece sem um “propósito”. O ritmo do filme é cadenciado, mas não chega a ser cansativo (não para aqueles que são fisgados pela história).

A trilha sonora reforça a repetição e o marasmo, trabalhando sempre com o mesmo motivo musical. Mas, “As Horas” tem um trunfo maior na manga além de uma história instigante. A atuação é que faz do filme uma obra espetacular.

Eu sou um tanto suspeito para escrever sobre Nicole Kidman - já que sou fã do seu trabalho - mas ela é a melhor. Além da prótese que usa sobre o nariz e que muda completamente seu rosto, ela consegue mudar a si mesma quase por completo. Sua voz, construção corporal e olhar são completamente diferentes dos trabalhos anteriores e, parada, encostada num batente de porta, sem dizer uma palavra, consegue exprimir toda a dor de Virginia Woolf sem ter de apelar para caretas de choro (que, diga-se de passagem, Julianne Moore exagera no uso).

Meryl Streep tem um jeito peculiar de criar personagens - aproximando-os do seu modo de ser. E o mesmo acontece na construção de Clarissa Vaughn. E não é que funciona? Clarissa é outro acerto na carreira da atriz.

Destaque para Ed Harris no papel de Richard Brown (o amigo-poeta de Clarissa), que consegue criar uma figura depressiva e ao mesmo tempo poética.

Na internet encontrei muitos e muitos comentários sobre o filme... Constatei que esse trabalho é do tipo “ame ou odeie”. Não encontrei meio-termo. Destaquei aqui dois extremos, que achei interessantes pelos “excessos”:

"É o melhor filme que vi na minha vida até agora! Tudo nele funciona perfeitamente bem. O roteiro é maravilhoso, o diretor é super competente, a trilha sonora é emocionante e o trio Kidman/Moore/Streep está excepcional. Elas são ótimas e conseguem passar toda a melancolia que envolve o universo feminino. Nunca fiquei tão feliz em me sentir melancólico. Um verdadeiro filme de arte. Nota 1000!". (Fernando Augusto Tozo)

"Pode-se resumir o filme em uma palavra: monótono. Um dramalhão sem o menor sentido. Tragédias em cima de tragédias que ocorrem na vida de três mulheres (interligadas de forma obscura) sem muita explicação de porque ocorrem. Nem as brilhantes interpretações das atrizes salvam a falta de enredo. Apesar disso como todo filme feito vale a pena ser visto pelo menos uma vez." (Daniel de Almeida Thiengo)

Eu acredito que o maior valor desse projeto é a coragem de fazer um filme tão cruel e atual, com um tema tão difícil e pouco acessível. Alguns pensarão se tratar de um filme para mulheres, outros de um filme para Oscar, Globo de Ouro e afins, mas no fundo, “As Horas” vem escancarar o nosso medo de não saber o que fazer com a nossa existência nesse planetinha.


Minha opinião: "EXCELENTE!"


Filme para assistir agarradinho, que eu recomendo!



Abração a todos!

6 comentários:

Fabby disse...

Oiii, Val! Fiquei tão feliz quando o James me deu o seu link (libidinosa, eu, hein, hein?).

Eu amei esse filme. Ele me prendeu a atenção do primeiro ao último minuto. Vc já assistiu a "A Pele", com a Nicole e o Robert Downey Jr.? Vale a pena demais!

Tô com saudades! Quando vc vem por aqui?

Beijos, querido!

Valdson Bernardes disse...

Fabby! Que delícia de visita no meu blog!

Pode usar e abusar do meu "Link", libidinosa! Hehehehe...

"As Horas" está na lista dos meus filmes "do coração". Adoro mesmo! E foi presente do James! Mais um motivo pra ser especial! :^)

Anotado: assistirei "A Pele" e depois te digo o que achei, tá?

Espero aparecer por aí logo, porque também estou com saudades!

E apareça sempre por aqui pra gente "tricotar" um pouquinho!

Beijão enorme!

James Figueiredo disse...

1- "As Horas" é sensacional! Sabia que você ia gostar do filme...rs

2- Sabia que eu ADORO entrar aqui e ver os desenhos que eu fiz pra você ilustrando os seus posts?? ;^)

3- E cadê as atualizações, Peixe??

Beijão,
J.

Valdson Bernardes disse...

Peeeeeixe!

1 - Precisamos assistir "As Horas" de novo, né?

2 - Obrigado pelos desenhos, Nenê! Você não imagina como eles ajudam a enriquecer meu blogzinho! :^)

3 - Atualizações... nesse final de semana! Aguarde!

Beijão enorme!

LuizPerezLentini disse...

Olha só quem encontrei por aqui...Parabéns pelo Blog Valdson. Já está na minha lista de leitura frequente.
Em tempos, "As Horas" é um filme maravilhoso e profundo.
Abraços

Valdson Bernardes disse...

Lentini!

Que surpresa boa! Obrigado pela visita!

Abração!